terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dos versos não lidos


Milhares de gavetas abarrotadas de ideias e traças por aí. Não em vão as minhas seguem assim. Uma verdadeira jângal de criaturas, seres, impropérios, mundos, gritos, insônia, lampejos, risos e agonia. Não à toa, criam-se blogs numa tentativa de manter-se lido, conhecido, e quem sabe, reconhecido. Santa tartufice. Os velhos tempos, donde as calhas rodas pessoanas não voltam, tinham seus pastiches, pasquins e folhetins, ou até folha ou gazeta do colégio. Tempos outros, desvarios eternos. Seguirão aqui, sem pretensão nenhuma da Academia ou do Pulitzer, tampouco o Nobel - existem ghost writers melhores para isso - , então, como dizia, seguirão aqui versos, gritos, desmandos, despachos, contos, crônicas, relatos de viagem, críticas de filme, livro, resenhas e outras tessituras rocambolescas. Que niilismo é esse, meu filho? Pai, perdoa, ele sabe o que faz. Enfim... O primogênito que não o é no mundo das gavetas.

SEDE

Dá-me um litro de poesia

Dá-me uma litania

Espasmos de epifania

Que palavras

Quantas palavras são precisas

Para se caber em um litro de poesia

Em algum quando sem como

Um litro apenas

Um quilo deve ser muito

Um litro é líquido pesado

Como o vinho que evola

Que esquece a uva e o campo

Como a estampa que esquece

O algodoeiro ressequido

Na caatinga

Como a castanha em latinha

Desdenha o caju morto

Em bagaços

Em compotas

Mal-comportadas

E mal-distribuídas

Ah, tudo isso não vale um litro sequer

Um litro pelo amor de Baco ou do bêbado

Da esquina

Que morre por isso mesmo

Sem poesia que o ampare

Ou lhe mate a sede

Um comentário:

  1. Amigo Lucieudo,
    Seus escritos refletem as agruras contemporâneas do homem...
    Suas letras bailam de máscaras em torno e para a contradança com a poesia do universo...
    Seus versos gritam, gemem, sussurram delicadamente agressivos para a treva e para a luz...
    Algo assim barrocamente moderno:
    Eis um espaço para a poesia/política/cultura/crítica/ciência...
    Um brinde para todos esses momentos de epifanias extravagantes, dionisíacamente extravagantes.
    Macbeth.

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