sábado, 9 de janeiro de 2010

Quem tem medo de jazz


Fato (mas não consumado) é que o jazz é alcunhado de música de intelectual, da elite, esnobe; detratores e desconhecedores à parte, o jazz é a arte da música em sua força maior de criatividade, improviso, alegria, joie de vivre, ora dançante, ora nostálgica, ora apaixonante, nunca indiferente nem dona de verdades ou arcabouços meramente técnicos. Os aficcionados, de cujos sopros, acordes e melodias, retiram momentos diletantes e prazerosos indescritíveis, são aqueles intrometidos, conhecedores, amantes, músicos e doidivanas que sabem um pouco da história, dos temas, das loucuras e da grande invencionice que é uma "tune" desse estilo musical. Apenas ouvindo e sentindo para saber. Música instrumental sempre me agradou, trilhas sonoras de filmes e os temas dançantes das grandes orquestras, que em qualquer baile, volta e meia, desenvolve um bailão em meio ao axé, samba e pagodes oficiais e oficiosos de qualquer festa embutida nesses buffets e cerimoniais da vida. Comecei a me inteirar com os musicais e com o repertório de trilhas sonoras de filmes, como os de Woody Allen e Fellini, apenas para ser sucinto. Adquiri meus primeiros discos, biografias e livros numa tentativa de imergir num mundo que, quer queira ou não, te inebria e enfeitiça a cada audição ou novidade. Existem obviamente diversos estilos dentro do próprio jazz, o que talvez tenha ajudado a produção de alcunhas mal elaboradas ou interpretações vesgas e dissonantes. Cool, free, funky (cuidado, não confundir com o barulho produzido pelos cariocas), dixieland, be bop, hard bop são alguns dos filhotes dessa prole tão criativa e ora bizarra, como assim querem os puristas do eterno jazz das origens, calcados no blues, no soul, no ritmo, na melodia e no impacto das notas tecnicamente perfeitas. Perfeição há no jazz, sim, mas isso não é uma meta, talvez, sim, uma das consequências das mais agradáveis do estilo. Encantando ou não, jovens ou velhos, ricos e pobres, o velho e sempre inovador jazz sempre lançou um olhar voltado à qualidade, ao improviso, como já exposto e na versatilidade de ritmos e superação de convenções. Decantar estilos como a música clássica, flertar com o rock, com o baião, com a salsa, além de muitos outros, não só mostra o seu mimetismo e sincretismo mas seu favorecimento à boa qualidade auditiva e apelo ao encontro de uma sensação sempre diferente e ousada. Para aqueles que não conhecem, ou nunca ouviram, vale lembrar, a título de curiosidade, que as grandes orquestras ainda tocam peças do dixieland, ritmo típico de New Orleans, as quais fizeram e ainda fazem muitos pares dançar e levitar. emoção é o que nao falta. Basta procurar em discos ou faixas de nomes - não serei prolixo -, como Duke Ellington, Dave Brubeck, Charles Mingus, John Coltrane e Miles Davis (estes últimos na foto no auge do be bop, nos 1950-60), somente para citar os ícones. Qualquer peça destes dá uma ideia do que é, o que faz e do que é capaz essa imortal possibilidade e atrevimento musical, o jazz. Deslindem a carranca da mesmice e ousem, procurem, reinventem-se também. Um abraço sincopado a todos, ao som de So what, sucesso desses dois grandes aí do alto, de um dos maiores best sellers, em toda a história da música contemporânea, o Kind of Blue. Então, be cool and jazzeiem-se.

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